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sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A santidade: vocação de todos os cristãos



No documento sobre a Igreja, Lumen Gentium, do Concílio Vaticano II, aparece, no capítulo quinto, o tema da santidade. Tal escrito resultou de grande importância para a vida da Igreja, pois com ele, o concílio põe fim a uma concepção na qual a santidade ou perfeição resultava como uma realidade, que dizia respeito à hierarquia, aos religiosos, enquanto que aos leigos era exigido um mínimo necessário. A santidade, como afirma o texto conciliar, é uma vocação que diz respeito a todos os batizados.

O texto conciliar, após falar da santidade da Igreja, logo em seguida, faz a afirmação muito patente da santidade como vocação de todo o povo de Deus: “Por isso na Igreja todos, quer pertençam à Hierarquia, quer sejam por ela apascentados, são chamados à santidade, segundo as palavras do Apóstolo: ‘Pois esta é a vontade de Deus: vossa santificação’ (1Ts 4,3; cf. Ef 1,4)” (n. 39).

Trata-se, portanto, não de um chamado exclusivo e diversificado em graus, mas de uma única santidade à qual toda a Igreja é chamada e que se exprime multiformemente (cf. n. 41). Assim sendo, a comunidade eclesial é interpelada a exercer a corresponsabilidade no seu empenho de santificação, fazendo com que edificando-se mutuamente cada um produza frutos em Cristo . Esta vocação, a que todos são convidados, deriva da ação santificadora de Cristo pela sua Igreja (cf. n. 39). Ele A santificou e é para Ela o seu mestre e modelo (cf. n. 40). Sobre Ela enviou o Espírito Santo a fim de que, sob o seu impulso, manifestem-se os frutos da graça produzidos sob a sua ação nos fiéis (cf. n. 39) e se aperfeiçoe o dom recebido no batismo (cf. n. 40).

Esta santidade consiste sobretudo no aperfeiçoamento da caridade que, “como vínculo de perfeição e plenitude da lei (cf. Cl 3,14; Rm 13,10), rege, informa e conduz ao fim todos os meios de santificação” (n. 42). Favorece a sua perfeição a prática dos conselhos evangélicos (cf. n. 39) e o uso das forças recebidas segundo a medida da doação de Cristo (cf. n. 40).

A vocação à santidade comum a todos os fiéis deve ser vivida no empenho cotidiano de cada cristão. Não se trata, pois, de uma realidade que pressupõe uma alienação das coisas terrestres, mas que nelas se dá. Todos são chamados nas circunstâncias de sua vida, no dia-a-dia a se santificarem, aceitando com fé tudo que vem da mão do Pai e cooperando com a sua vontade, que é sempre vontade salvífica (cf. n. 41).

A Santidade é a Verdadeira Beleza!!!

A maior beleza que posso encontrar em uma pessoa é a santidade. [...]

A plena realização do homem consiste na santidade, em uma vida vivida no encontro com Deus, que deste modo se torna luminosa também para os demais, também para o mundo. [...]

O homem ficou degradado pelo pecado. Procuremos voltar à grandeza originária: somente se Deus está presente, o homem alcança sua verdadeira grandeza. O homem, portanto, reconhece dentro de si o reflexo da luz divina: purificando seu coração, volta a ser, como era no início, uma imagem límpida de Deus, Beleza exemplar. [...]

O homem tem, portanto, como fim, a contemplação de Deus. Só nela poderá encontrar sua plenitude. Para antecipar, em certo sentido, este objetivo já nesta vida, tem de avançar incessantemente para uma vida espiritual, uma vida de diálogo com Deus.

Papa Bento XVI

Para chegar a esta conclusão, o Papa meditou no elogio do homem escrito por São Gregório:

«O céu não foi feito à imagem de Deus, nem a lua, nem o sol, nem a beleza das estrelas, nem nada do que aparece na criação. Só tu [alma humana], foste feita à imagem da natureza que supera toda inteligência, semelhante à beleza incorruptível, impressão da verdadeira divindade, espaço de vida bem-aventurada, imagem da verdadeira luz. Se com um estilo de vida diligente e atento lavas as fealdades que foram depositadas em teu coração, resplandecerá em ti a beleza divina... Contemplando-te a ti mesmo, verás em ti o desejo de teu coração e serás feliz.»

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Chamados à santidade


'Eu sou o Senhor que vos tirou do Egito para ser o vosso Deus. Sereis santos porque Eu sou Santo' (Lv 1,44-45). O desígnio de Deus é claro: uma vez que fomos criados à sua 'imagem e semelhança' (Gen 1,26), e Ele é Santo, nós temos que ser santos também. O Senhor não deixa por menos. A medida e a essência dessa santidade é o próprio Deus. São Pedro repete esta ordem dada ao povo no deserto, em sua primeira carta, convocando os cristãos a imitarem a santidade de Deus:
'A exemplo da santidade daquele que vos chamou, sede também vós santos, em todas as vossas ações, pois está escrito: Sede santos, porque eu sou santo' (1Pe 1,15-16).
S.Pedro exige dos fieis que 'todas as vossas ações' espelhem esta santidade de Deus, já que 'vós sois, uma raça escolhida, um sacerdócio régio, uma nação santa, um povo adquirido para Deus, a fim de que publiqueis o poder daquele que das trevas vos chamou à sua luz maravilhosa' (1Pe 2,9). Para São Pedro a vida de santidade era uma imediata conseqüência de um povo que ele chamava de 'quais outras pedras vivas... materiais deste edifício espiritual, um sacerdócio santo' (1Pe 2,5).
Neste sentido exortava os cristãos do seu tempo a romper com a vida carnal: 'luxúrias, concupiscências, embriagues, orgias, bebedeiras e criminosas idolatrias' (1Pe 4,3), vivendo na caridade, já que esta 'cobre a multidão dos pecados' (1Pe 4,8).
Jesus, no Sermão da Montanha chama os discípulos à perfeição do Pai:
'Sede perfeitos assim como o vosso Pai celeste é perfeito' (Mt 5,48). Essas palavras fazem eco ao que Deus já tinha ordenado ao povo no deserto: 'Sede santos, porque eu sou santo' (Lv 11,44). Jesus falava da bondade do Pai, que ama não só os bons, mas também os maus, e que 'faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons, e faz chover sobre os justos e sobre os injustos' (Mt 5,45). Jesus pergunta aos discípulos: 'Se amais somente os que vos amam, que recompensa tereis ?' (46). Para o Senhor, ser perfeito como o Pai celeste, é amar também os inimigos, os que não nos amam. 'Amai os vossos inimigos, fazei bem aos que vos odeiam, orai pelos que vos perseguem e vos maltratam'(44). E mais ainda: 'Não resistais ao mau. Se alguém te ferir a face direita, oferece-lhe também a outra' (39).
Sem dúvida não é fácil viver essa grande exigência que Jesus nos faz, mas é por isso mesmo que ao cumpri-la vamos nos tornando santos, perfeitos, como o Pai celeste.
Todo o Sermão da Montanha, que São Mateus relata nos capítulos 5,6 e 7, apresenta-nos o verdadeiro código da santidade. É como dizem os teólogos, a 'Constituição do Reino de Deus'. Santo Agostinho nos assegura que:
'Aquele que quiser meditar com piedade e perspicácia o Sermão que nosso Senhor pronunciou no Monte, tal como o lemos no Evangelho de São Mateus, aí encontrará, sem sombra de dúvida, a carta magna da vida cristã' (CIC, Nº 1966).
É por isso que na festa de todos os santos a Igreja nos faz ler no Evangelho, as Bem aventuranças, que são o início, e como que o resumo, de todo o Sermão do Monte.
É importante perceber que São Paulo começa quase todas as suas cartas lembrando os cristãos do seu tempo de que são chamados à santidade. Aos romanos, logo no início, ele se dirige dizendo: 'a todos os que estão em Roma, queridos de Deus, chamados a serem santos... ' (Rom 1,7). Aos coríntios ele repete: 'à Igreja de Deus que está em Corinto, aos fiéis santificados em Cristo Jesus chamados à santidade com todos...' (1Cor 1,2). Aos efésios ele lembra, logo no início, que o Pai nos escolheu em Cristo 'antes da criação do mundo para sermos santos e irrepreensíveis diante de seus olhos' (Ef 1,5). Aos filipenses ele pede que: 'o discernimento das coisas úteis vos torne puros e irrepreensíveis para o dia de Cristo' (Fil 1,10).
'Fazei todas as coisas sem hesitações e murmurações a fim de serdes irrepreensíveis e sinceros, filhos de Deus íntegros no meio de uma geração má e perversa' (Fil 2,14) .
Para o Apóstolo a santidade é a grande vocação do cristão. Ele diz aos efésios:
'Exorto-vos pois (...) que leveis uma vida digna da vocação a qual fostes chamados, com toda humildade, mansidão e paciência' (Ef 4,1). De maneira mais clara ainda ele fala aos tessalonicenses sobre o que Deus quer de nós:
'Esta é a vontade de Deus: a vossa santificação; que eviteis a impureza; que cada um de vós saiba possuir o seu corpo em santificação e honestidade, sem se deixar levar pelas paixões desregradas como fazem os pagãos que não conhecem a Deus'
(1 Tess 4,3-5).
Aos cristãos de Corinto, Paulo volta a insistir na sua segunda carta:
'Purifiquemo-nos de toda a imundice da carne e do espírito realizando a obra de nossa santificação no temor de Deus' (2 Cor 7,1). Para o Apóstolo a santificação de cada um é como a realização de uma obra muito importante.
E também a carta aos Hebreus, escrita por São Paulo ou algum dos seus discípulos, nos manda procurar a santidade:
'Procurai a paz com todos e ao mesmo tempo a santidade, sem a qual ninguém pode ver o Senhor' (Heb 12,14).
Todas essas passagens da Sagrada Escritura, e muitas outras, deixam claro a nossa vocação para uma vida de santidade. Santa Teresa de Ávila afirma que: 'O demônio faz tudo para nos parecer um orgulho o querer imitar os santos'. A santidade ainda não é um fim, mas o meio de voltarmos a ser 'imagem e semelhança' de Deus, conforme saímos de suas mãos.
São Paulo ensina na carta aos romanos que Deus nos quer como autênticas imagens de Jesus:
'Os que ele distinguiu de antemão , também os predestinou para serem conformes à imagem de seu Filho, a fim de que este seja o primogênito entre uma multidão de irmãos'(Rom 8,29).
A santificação, portanto, consiste em cada cristão se transformar numa cópia viva de Jesus, 'um outro cristo' como diziam os santos Padres.
Quando a imagem de Jesus estiver formada em nossa alma, então teremos chegado à meta que Deus nos propõe. É aquele estado de vida que levou, por exemplo, São Paulo a exclamar: 'Eu vivo, mas já não sou mais eu, é Cristo que vive em mim. A minha vida presente, na carne, eu a vivo na fé no Filho de Deus' (Gal 2,20).
Jesus sofreu toda a sua Paixão e Morte para que recuperássemos diante do Pai a santidade. É o que o Apóstolo nos ensina: 'Eis que agora Ele vos reconciliou pela morte de seu corpo humano, para que vos possais apresentar santos, imaculados, irrepreensíveis aos olhos do Pai' (Col 1,22).